quinta-feira, 17 de maio de 2012

A Serpente

A Serpente é a última peça escrita por Nelson Rodrigues e, como é comum em seus textos, trata do desejo pelo proibido e da falta de desejo pelo permitido. Nada é mais excitante do que o proibido. Li um livro sobre emagrecimento que o dr. Gikovate dizia que o gordo tem compulsão pelas coisas doces e engordantes porque ele sabe que é não pode comer aquilo, então o cérebro exerce uma vontade incontrolável por aquilo. Em quase tudo na vida, se te disserem que não pode fazer algo, você vai pelo menos pensar muito a respeito. É só olhar os mais jovens que tem impulsos por coisas que os pais dizem que não pode fazer como sexo antes do casamento, beber álcool, tomar drogas, sair com maus elementos e é exatamente isto que eles farão, para desespero dos seus progenitores.

Na história, Lígia é casada com Décio há mais de um ano e continua virgem e ainda por cima sofre violência do marido. A irmã até sabe que ela é espancada eventualmente e fica na dela como à sociedade manda, mas não sabia da falta de sexo. Lígia, num momento desespero por causa de sua situação quer tentar o suicídio por causa da sua situação. Guida, sua irmã, tem um casamento maravilhoso e transa com o marido todo dia. Como moram na mesma casa, Lígia ouve os gemidos pelas paredes e se martiriza por não ter um casamento como a irmã. Olha só o que a Guida propõe: para que ela experimente um pouco dos prazeres da vida e desista do suicídio, oferece seu marido por uma noite para descabaçá-la. É claro que nada de bom sairia deste fato né. A partir desta noite de luxúrias nada será como antes.

Nasce então a paranóia feminina da competição com a outra rival. As duas, apaixonadas pelo mesmo homem se odiarão, irão querer uma a morte da outra para ficar com o cara que, trouxa, caiu na armadilha. Mas pense bem, sua mulher diz que ele pode comer a cunhada numa boa e ainda por cima diz que é caso de vida ou morte, senão Lígia se mataria. Ele faz a boa ação, claro que felizão também porque a irmã é muito linda, mas a mulher atual irá mudar de idéia depois e culpará o marido pelo fato. A culpa é de Guida que ofereceu o que não podia. Não importa o que seja, nunca empreste coisas que você dá muito valor, pois provavelmente voltará avariado. Empreste um carro e ao voltar arranhado, veja o que acontece com a amizade. É por isso que eu evito também pegar emprestadas certas coisas que eu, na posição do outro, não emprestaria nunca.

Um dos artifícios que os atores usa é a simulação de uma câmera lenta, importada dos filmes do cinema. É ai que vemos o quanto uma cena em slow-motion é sensual. Não importa se está se passando uma briga violenta onde é mostrada a dor ou se a cena se passa durante carícias apaixonadas, toda a ação, com uma música de fundo, se torna extremamente sensual e muito bonita. E então percebemos que cada momento importa, frações de segundo na nossa vida diária têm uma importância mesmo que a gente não preste atenção e passe batido. Como uma lupa de aumento em uma situação específica, podemos ver detalhes que antes poderiam nos escapar. Ponto positivo pra iniciativa.

Peça: A Serpente
Texto: Nelson Rodrigues
Direção: Eloísa Vitz
Elenco: Eloísa Vitz, Daniela Rocha Rosa, Elam Lima, Diogo Pasquim e Laura Vidotto
Teatro Ruth Escobar
Endereço: Rua dos Ingleses, 209
Quintas: 21h30
Em cartaz até 28/062012
Ingresso: R$40,00

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